De acordo com Brian Harding, ligado à Universidade da Califórnia e coautor de estudo recente, a potência da erupção foi tão alta que gerou ventos com velocidade maior que um furacão e correntes elétricas incomuns até mesmo na região da ionosfera. Segundo o pesquisador, os efeitos de Tonga geraram ventos intensos medidos por satélites a cerca de 190 km de altitude, ou seja, quase duas vezes a altura da linha de Karman, uma divisão teórica que separa a atmosfera da Terra do espaço exterior.
No estudo, a equipe de cientistas afirma que a erupção de Tonga superou as maiores detonações nucleares já realizadas e comparou os efeitos aos do furacão Patricia, que em 2015 produziu os ventos mais fortes já registrados para esse tipo de fenômeno, com velocidade constante de 345 km/h. Segundo Harding, as velocidades do vento criadas pelo vulcão Tonga foram duas vezes maiores, atingindo 720 km/h medidas por satélites.
"O vulcão criou uma das maiores perturbações no espaço que já vimos na era moderna", disse Harding. "O estudo dessa anomalia está nos permitindo testar a conexão ainda mal compreendida entre a atmosfera inferior e o espaço", completou.
A missão ICON, da NASA, foi lançada em 2019 para identificar como o clima da Terra interage com o clima do espaço.
Quando o vulcão entrou em erupção, empurrou uma nuvem gigante de gases, vapor de água e poeira para o céu. A explosão também criou grandes distúrbios de pressão atmosférica, gerando ventos extremamente fortes. À medida que se expandiam para cima por camadas atmosféricas mais finas, começaram a se mover mais rápido, até atingir a ionosfera e a borda do espaço. Neste nível, sensores a bordo do satélite ICON registraram a velocidade do vento em 724 km/h.
Outra missão que detectou forte anomalia na ionosfera foi a Swarm, da agencia espacial europeia. Composta de três satélites, a Swarm tem como objetivo desvendar os mistérios do campo magnético da Terra.
Segundo os pesquisadores, os ventos extremos gerados pela erupção também afetaram as correntes elétricas na alta atmosfera. Normalmente, as partículas presentes na ionosfera formam uma espécie de jato elétrico que flui no sentido o leste. Essa esteira é conhecido como eletrojato equatorial e é impulsionado por ventos na atmosfera mais baixa.
Após a erupção, a intensidade do eletrojato equatorial subiu cinco vezes e mudou drasticamente de direção, passando a fluir para o oeste por um curto período.
Para Joanne Wu, física da Universidade da Califórnia e coautora do novo estudo, foi muito surpreendente ver o eletrojato equatorial ter sua direção revertida por algo que aconteceu na superfície da Terra.