O poço chinês se localiza na Bacia de Tarim, em Xinjiang e nesta primeira etapa deve chegar a 11,1 km de profundidade. Segundo nota publicada, nesta fase deverão ser obtidas informações científicas sobre formações geológicas, além de ampliação do conhecimento sobre a propagação de terremotos e erupções vulcânicas. Pesquisas sobre a identificação de minerais e tentativas de correlação geológica às mudanças climáticas também deverão ser realizadas.
Até agora, o poço mais profundo que se tem registro é a escavação de Kola, na Rússia, que chegou a 12,2 km de profundidade em 1989. Segundo o governo russo, o objetivo dessa perfuração era estudar a composição da crosta e manto da Terra, além da avaliação da resistência das rochas e da alta temperatura encontrada nas profundezas.
Os desafios de se avançar em grandes profundidades rumo ao centro da Terra esbarram, entre outros, no aumento da temperatura encontrada na medida em que a profundidade aumenta. Essa elevação da temperatura é chamada "gradiente geotérmico", estimado em 3°C a cada 100 metros de profundidade, ou cerca de 25°C/km de profundidade.
O valor do gradiente geotérmico foi observado pela primeira vez em 1867, durante a escavação do primeiro poço do mundo a ultrapassar os 1000 metros de profundidade, nas minas de gesso de Sperenberg, na Alemanha. Posteriormente, outras escavações demonstraram que esse índice é praticamente constante em qualquer local do planeta.
Além da temperatura, o ambiente hostil da perfuração inclui a aspereza das rochas, riscos e contaminação ambiental durante o processo de perfuração e desenvolvimento de equipamentos e brocas super resistentes à dureza e temperatura.
Considerando o índice geotérmico de 25°C/km, fica fácil entender que nesta primeira etapa os pesquisadores estarão trabalhando com perfurações em ambientes superiores a 250°C, o que rendeu à obra o apelido de Buraco do Inferno.
Naturalmente, chegar ao centro da Terra em poucos anos é uma missão impossível, pois na medida em que a perfuração avançar os efeitos da alta temperatura se tornarem cada vez mais intransponíveis. Para se ter uma ideia, ao atingir o topo do manto superior, a 660 km de profundidade, os equipamentos já estarão sendo submetidos a tórridos 1900 °C, com apenas 10% do caminho percorrido.
Com o passar do tempo e as escavações forem progredindo, talvez um dia possamos chegar de fato ao Centro da Terra. Quando isso acontecer estaremos a 6370 km da superfície, diante de uma fornalha de mais de sete mil graus de temperatura. Muito sorvete e água gelada devem fazer bem nesse lugar!