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07 Jul
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Impacto de Tunguska completa 115 anos e ainda gera dúvidas sobre a origem do objeto

Apolo11.com
Rogério Leite07 Jul 2023
Eram 07h17 da manhã de 30 de junho de 1908, quando uma gigantesca explosão de origem desconhecida foi ouvida pelas poucas pessoas que habitavam a região do Rio Tunguska, no centro-norte da Sibéria. Sem saber o que de fato havia acontecido, esses habitantes estavam testemunhando a mais impressionante entrada espacial já ocorrida na Terra na era Moderna.

Fotos: Registro fotográfico feito em 1927 por Leonid Kulik, mineralogista soviético especialista em meteoritos e líder das primeiras expedições à região. A foto mostra a região siberiana abaixo do impacto do asteroide e o efeito de 'entortamento' das árvores. Efeito semelhante só seria visto novamente em 1945, na cidade japonesa de Hiroshima. Crédito: Wikimedia Commons e Museu Natural de São Petersburgo.<BR>
Fotos: Registro fotográfico feito em 1927 por Leonid Kulik, mineralogista soviético especialista em meteoritos e líder das primeiras expedições à região. A foto mostra a região siberiana abaixo do impacto do asteroide e o efeito de 'entortamento' das árvores. Efeito semelhante só seria visto novamente em 1945, na cidade japonesa de Hiroshima. Crédito: Wikimedia Commons e Museu Natural de São Petersburgo.

Segundo Don Yeomans, cientista-chefe do NEO, Laboratório de Objetos Próximos à Terra, da Nasa, passado um século do Evento de Tunguska, alguns ainda debatem sobre os possíveis cenários do dia do acontecimento, mas a teoria geral acordada é que naquela manhã de 1908 uma gigantesca rocha de 120 metros se chocou contra a alta atmosfera acima da Sibéria, provocando a explosão.

Desde então, muitos estudos foram feitos para se avaliar qual a real origem ou o tipo de objeto que causou o impacto. Diversos pesquisadores afirmam que o objeto que penetrou na atmosfera era um asteroide, enquanto outros pesquisadores sustentam se tratar de um pequeno cometa.

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Registro fotográfico feito em 1927 por Leonid Kulik, mineralogista soviético especialista em meteoritos. A foto mostra com clareza o efeito do entortamento de árvores provocado pela onda de choque criada após o impacto na alta atmosfera de Tunguska, na Sibéria. Crédito: Leonid Kulik/Museu Natural de São Petersburgo.<BR>
Registro fotográfico feito em 1927 por Leonid Kulik, mineralogista soviético especialista em meteoritos. A foto mostra com clareza o efeito do entortamento de árvores provocado pela onda de choque criada após o impacto na alta atmosfera de Tunguska, na Sibéria. Crédito: Leonid Kulik/Museu Natural de São Petersburgo.



Estima-se que o objeto, de 1.1 milhão de toneladas, rompeu a atmosfera terrestre a 54 mil km/h e durante sua rápida imersão aqueceu o ar ao seu redor a uma temperatura de 24 mil graus Celsius. A combinação de pressão e calor provocou a fragmentação da rocha, criando uma enorme bola de fogo que liberou energia equivalente à explosão de 480 bombas de Hiroshima.

Segundo relatos da época, por diversos dias o céus da Europa e da Ásia se tornaram claros e avermelhados. Modelos matemáticos recentes mostram que a onda de choque criada na hora do impacto circundou a Terra por duas vezes através da atmosfera.

Devido à rotação da Terra, se o objeto tivesse atingindo a atmosfera 5 horas mais tarde destruiria por completo a cidade de São Petersburgo, na época capital do Império Russo.


Apesar da explosão ter ocorrido em 1908, as primeiras expedições científicas chegaram ao local somente 19 anos depois, após uma série de tentativas frustradas de se atingir a região, dificultadas pelas severas condições siberianas e pela falta de interesse do regime czarista.

Devido o impacto ter ocorrido a pelo menos 9 mil metros de altitude, não houve marcas ou crateras deixadas na superfície, mas pelo menos 2 mil quilômetros de florestas foram completamente destruídas abaixo do local do ponto de entrada. Isso gerou uma série opiniões divergentes e conspiratórias, entre elas a possibilidade da queda de uma nave espacial e até mesmo a explosão de uma bomba alienígena.


Segundo alguns estudos, pelo menos 200 mil toneladas de nitrogênio foram precipitadas sobre a região de Tunguska no momento do impacto. "A fulgurante entrada espacial produziu temperaturas extremamente altas, fazendo o oxigênio na atmosfera reagir com o nitrogênio. Isso produziu uma grande quantidade de óxidos de nitrogênio", disse Natalia Kolesnikova, ligada à Universidade de Moscou e uma das autoras de um dos estudos sobre Tunguska.



Segundo Evgeniy Kolesnikov, especialista em isótopos e estudioso do caso há mais de 30 anos, o nível de acumulação de carbono 13C medido nas amostras de trufas coletadas em 1908 não pode ser explicado por nenhum processo terrestre e sugere que a catástrofe de Tunguska tenha realmente origem cósmica.

Para Tatjana Böttger, ligada ao centro Helmholtz, na Alemanha, a causa mais provável seria o impacto de um asteroide do tipo-C como "253 Mathilde" ou até mesmo um cometa, como Borelly.


Estima-se que objetos espaciais do mesmo tamanho que atingiu Tunguska penetre nossa atmosfera a cada 300 anos, mas isso não significa que teremos um evento similar nos próximos 200 anos. Segundo Yeomans, essa estimativa é uma média baseada nas melhores condições científicas atuais. "Vejo esses números do ponto de vista estritamente matemático e a possibilidade de um evento similar ocorrer não me tira o sono", disse o cientista.

Com o avanço dos instrumentos e técnicas de detecção, diversas expedições científicas estão previstas para os próximos três anos na região. Serão analisados principalmente material do solo e restos de plantas e animais que possam ter presenciado o evento. O objetivo será a confrontação dos resultados com os dados já coletados em outras áreas onde supostamente teriam ocorrido eventos semelhantes.