As sondas Voyager 1 e 2 foram lançadas em 1977 e são as únicas espaçonaves em operação além da heliosfera, uma espécie de bolha formada por campos magnéticos e partículas carregadas geradas pelo Sol. Por estarem tão distantes, são as únicas naves capazes de estudar a dinâmica da heliosfera e fornecerem respostas sobre como esse ambiente colabora na proteção da Terra contra as partículas altamente energéticas encontradas no espaço.
Para operar no ambiente interestelar por tanto tempo, as Voyager 1 e 2 utilizam a energia fornecida por geradores termoelétricos do tipo RTG, que convertem o calor produzido pelo decaimento do plutônio em eletricidade. Esse é um processo contínuo, o que significa que a cada dia o gerador produz um pouco menos de energia devido ao esgotamento do plutônio.
Até agora, a queda no fornecimento de energia não alterou a capacidade dos instrumentos gerarem dados científicos, mas para isso os cientistas precisaram desligar os aquecedores e outros sistemas que neste momento não são essenciais para a continuidade da missão.
No entanto, mesmo com o desligamento de alguns dispositivos a produção de energia continua em queda, o que obrigou a equipe de engenheiros da Voyager 2 a desligar um dos dispositivos de segurança, o que permitirá manter os instrumentos científicos em funcionamento. Segundos os engenheiros, a mudança permitirá à missão adiar o desligamento de um dos instrumentos científico pelo menos até 2026. Se a medida não fosse tomada, o instrumento deveria ser desligado esse ano (2023).
Para tomar a decisão, a equipe examinou um mecanismo de segurança projetado para proteger os instrumentos caso a tensão das baterias varie significativamente. Como qualquer flutuação de tensão pode danificar os instrumentos, as sondas Voyager estão equipadas com um regulador de voltagem que aciona automaticamente um circuito de backup. Esse circuito acessa uma pequena quantidade de energia do gerador RTG, reservada para essa finalidade. Entretanto, ao invés de reservar essa energia para casos de emergência, a equipe optou por usar essa reserva para manter os instrumentos em operação.
Apesar do sistema elétrico das Voyagers estarem operando na reserva, mesmo após mais de 45 anos de operação ainda estão funcionando de forma relativamente estáveis, o que minimiza utilizar o sistema de segurança. Através de dados telemétricos a equipe de engenharia consegue monitorar as variações de tensão e responder rapidamente se houver grande oscilação.
No total, a Voyager 2 utiliza cinco instrumentos científicos para estudar o espaço. Sua irmã Voyager 1 opera um instrumento a menos, já que um deles falhou logo no início da missão, em 1977. Dessa forma, ainda não é hora de desligar algum dispositivo na Voyager 1. Caso a operação realizada na Voyager 2 dê bons resultados, a equipe pode implementá-la também na Voyager 1.
“A variação de tensão elétrica representa um risco para os instrumentos, mas consideramos que é um risco pequeno e a alternativa da manobra oferece uma grande recompensa por poder manter os instrumentos científicos ligados por mais tempo”, disse Suzanne Dodd, gerente de projeto da Voyager junto ao Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa, o JPL . “Estamos monitorando as tensões de bateria já faz alguns dias e parece que a opção está funcionando", disse a pesquisadora.
A missão Voyager foi inicialmente programada para durar apenas quatro anos, quando as sondas foram enviadas para além de Júpiter e Saturno. Entretanto, a NASA estendeu a missão para que a Voyager 2 visitasse Netuno e Urano. Até hoje, a Voyager 2 é a única espaçonave a se aproximar desses dois planetas gelados.
Norteada pelo bom funcionamento das sondas, em 1990, a NASA estendeu novamente a missão e enviaram as duas naves para fora da heliosfera. Em 2012 a Voyager 1 chegou à fronteira do Sistema Solar, enquanto a Voyager 2, por viajar mais lentamente e em uma direção diferente, chegou ao limite da heliosfera em 2018.