De acordo com o estudo, feito com base em dados coletados entre 2006 e 2020, uma rotação completa de Vênus equivale a 243,0226 dias terrestres, ou seja, para Vênus completar um único dia são necessários cerca de dois terços de um ano terrestre. Até agora, a velocidade de rotação era calculada em 227 dias.
Pode parecer bastante estranho que até hoje esse período não era conhecido com precisão, já que o planeta é o nosso vizinho celeste. Ocorre que Vênus tem uma atmosfera muito espessa, sem marcas fixas observáveis facilmente da Terra e sem alguma referência a medição fica bastante comprometida.
Para conhecer com precisão a rotação venusiana, astrônomos da Universidade da Califórnia (UCLA) utilizaram a gigantesca antena de Goldstone, de 70 metros de largura, para emitir sinais de rádio em direção ao planeta.
Após atravessarem a atmosfera venusiana, os sinais foram refletidos pela superfície rochosa e captados por duas antenas diferentes. A primeira antena a receber os sinais foi a do próprio observatório de Goldstone, localizada no deserto de Mojave, na Califórnia. Vinte segundos depois foi a vez da antena do Observatório Green Bank, na Virginia, que recebeu a reflexão 20 segundos depois.
A diferença de tempo de recepção entre as duas detecções permitiu à equipe determinar a velocidade que o planeta gira. De acordo com o comunicado, além da medição da velocidade de rotação também foi possível observar uma variação de 20 minutos neste período, ao longo de 15 anos.
Embora pareça fácil de ser executado, na prática o experimento é bastante complexo pois Terra e Vênus devem estar na configuração celeste exata e os dois radiotelescópios devem estar trabalhando para que as observações sejam bem-sucedidas. Para se ter uma ideia, para chegarem à velocidade do planeta foram necessárias 21 observações ao longo de 15 anos de trabalho.
“Usamos Vênus como uma enorme bola de espelhos usada em discoteca. Nós o iluminamos com uma lanterna extremamente poderosa, cerca de 100 mil vezes mais brilhante do que uma lanterna típica e com isso pudemos rastrear os reflexos e inferir as propriedades da rotação", disse Jean-Luc Margot, autor do estudo, ligado à UCL.
“Descobrimos que é realmente muito desafiador fazer tudo funcionar perfeitamente em um período de menos de 30 segundos. Na maioria das vezes obtivemos alguns dados, mas foram poucas as vezes que todos os dados necessários foram coletados ao mesmo tempo, explicou o pesquisador.